Quem nunca viu um morcego voando por aí? Os pequenos voadores de hábitos noturnos frequentemente causam medo e alvoroço. No entanto, especialistas garantem que, apesar do cuidado necessário no manejo desses animais, eles não são sinônimo de doença e não devem ser motivo de pânico. Em 2023, 107 morcegos foram recolhidos pelo Centro de Controle Zoonoses (CCZ) em Pelotas e apenas dois testaram positivo para raiva, doença mais comumente associada a esses animais.
A professora do Instituto de Biologia da UFPel e especialista em morcegos, Ana Rui, se dedica a mostrar a importância deles para as pessoas. "Eles prestam o que chamamos de serviços ecossistêmicos. Eles polinizam plantas, inclusive algumas de valor comercial, dispersam sementes e são controladores de insetos. Eles se alimentam, inclusive, de insetos que são considerados pragas agrícolas", resume. A espécie tadarida brasiliensis é a mais comum na área urbana de Pelotas, que tem uma população na casa das centenas de milhares.
A especialista enfatiza que os animais não oferecem riscos aos humanos. "Morcegos não atacam, não se enroscam no cabelo das pessoas e não são perigosos", destaca. Os animais podem carregar e transmitir o vírus da raiva, mas Ana observa que os casos são minoria. "A gente tem que desmistificar essa ligação direta entre os morcegos e a raiva. O morcego é reservatório da raiva, assim como outros animais silvestres, mas isso não significa que ele transmite. Apenas uma espécie transmite a raiva bovina", observa. Nas redes sociais (@morcegos.extremosul, no Instagram), o grupo de pesquisa da UFPel coordenado por Ana compartilha mais informações sobre as espécies da região.
Como agir
A recomendação da especialista é a mesma dada pelo CCZ de Pelotas, que é responsável pelo atendimento de chamados referentes aos morcegos. Quando encontrar um animal caído, principalmente durante o dia, é necessário evitar contato e chamar o CCZ. "Qualquer cidadão pode acionar esse serviço. Existem muitas espécies que moram na cidade e não causam problema nenhum, pelo contrário. De modo geral, temos que ter mais atenção quando eles aparecem de dia e/ou com comportamento atípico", explica a chefe do Departamento de Vigilância Ambiental, Isabel Madrid. Em hipótese alguma deve se matar esses animais.
Fechar as janelas ao entardecer, por exemplo, é uma medida simples para evitar a entrada dos morcegos em residências. Em janeiro deste ano, foram feitas 42 solicitações ao departamento, tanto para orientação quanto ao manejo dos animais, que podem se alocar em telhados e outros locais de casas, tanto para recolhimento de animais mortos ou doentes. Isabel ressalta, ainda, a importância de manter animais domésticos vacinados contra a raiva para evitar o possível contágio pelo contato com animais silvestres. O contato com o CCZ pode ser feito pelos números (53)99114-0546, pelo WhatsApp, ou (53)3284-7731 pelo telefone.
Moradores pelotenses
A professora da UFPel exemplifica que Pelotas está situada numa área úmida e de banhado e, portanto, ideal para morcegos caçarem insetos. "Tem morcegos por todo o mundo. Eles sempre estiveram em todo tipo de ambiente", resume Ana. Por aqui, a população percebe a presença deles, em especial no centro da cidade por conta da grande quantidade de casarões e estruturas propícias ao alojamento dos bichos. "A maioria dos moradores têm tela para evitar, porque eles ficam no telhado. Volta e meia alguém liga para avisar que entrou em casa. Tô aqui há 12 anos e sempre teve", diz Gabriel Dutra, porteiro de um condomínio residencial próximo ao Calçadão. "Às vezes eles aparecem. A gente costuma abrir as janelas e eles saem sozinhos", complementa o funcionário de uma galeria comercial nos mesmos arredores.
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